segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Miss Simpatia

Percebo que, no fundo, a decepção que estou experimentando é só o reflexo do sentimento de frustração gerado pela confiança depositada num saco furado e pelo coração aberto à uma parede de concreto.
O que prevalece é a raiva de mim mesma. Me deixei usar, caindo mais uma vez estúpida e inconscientemente no mesmo buraco!
Tomara que tudo sirva para eu ficar mais atenta e não cair de novo nessa. Ou, pelo menos, para que eu seja mais viva e saia mais fácil dos buracos que eu cair daqui em diante.
Agora está bem marcado - talvez como um prêmio de consolação, como aqueles títulos que dão às Misses Congeniality - que é melhor viver com verdade e de verdade, saber
que eu estava ali com tudo de mim, do que me arrastar sonsa por superfícies mornas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Vai chover na minha horta

Voltei agora do show da Macy Grey e estou inspirada. Então, lá vai:

"ummm sweet sweet baby,
life is crazy
but there's one thing
i am sure of
'that I'm Someone's lady'"

Chuva de benção,
Oh, yeah!

Amem.

http://www.youtube.com/watch?v=yJdh3oNa0bc

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Trem

Na minha vida de menina mineira passaram 29 anos. E vários trens. Mas nunca havia passado antes um trem tão poético quanto o de hoje. Tão poético que foi, levando o próprio poeta.
E eu fiquei na estação, sabendo que só fico ali até seguir para onde quer que eu queira. Desejando novos poemas e certa de que eles estão chegando. Venham de trem, de avião, de bicicleta. Andando ou nadando. Ou caindo de para-quedas. Que venham, que trombem em mim pelos paralelepípedos mais próximos! E que sejam translúcidos ou de cores definidas. Ou não. O importante, mesmo, é que poesias sempre hajam no livro da minha vida.
A poesia desse poeta que o trem levou era tão ambígua que ainda não sei dizer se foi ruim ou se foi boa. Não, foi ruim e boa. E também altamente confusa.
Hoje acordei pensando nele, no quanto a sua força me libertou e no quanto as suas palavras me prenderam. E eu pensava que estava livre. Até que logo outras palavras vieram e eu me percebi presa de novo.
Tudo começou com poesia... foi uma das primeiras palavras que ele me disse. E lindamente poético também foi hoje - provável fim - que despertou com pensamentos sobre liberdade, seguidos por sentimentos de prisão criados por palavras encantadas no celular e depois desfeitos com os números mágicos do horário que o trem partiu. Mas antes de partir, às 14:28, esse trem trouxe certezas de que mais que bons, ruins e confusos, aqueles poemas foram muito especiais. E outros ainda mais especiais estão prestes a dobrar a esquina e vir ao meu encontro.



Hoje foi como sempre foi entre nós: confusão poética contruída por ansiedade aguda em meio a intensos versos rápidos de hi e bye.

"All the days spent together, I wish for better
and I didn't want the train to come, now it's departed"
Warwick Avenue, cantando por Duffy. Não sei quem é o autor.

Eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também

Quando fui para o Brasil da última vez (que foi a primeira e única desde que eu me mudei de lá) eu estava com muito medo de ir. Queria até adiar a viagem uns quatro dias para ver se ganhava tempo. E, para isso, arrumei todas as desculpas possíveis, entre elas: vou perder DUAS aulas, não estou com o visto sueco estampado no meu passaporte novo, a Shannon vai defender a tese dela e (essa é a pior) não vai dar tempo de arrumar mala e de comprar presente para os meus queridos. Acho que se não fosse o fato de a minha mãe ter sido baleada dois meses antes, eu nem teria ido.

Graças às minhas amigas Cigdem e Linda eu fui na data que havia marcado nove meses antes. Elas refutaram todas as minhas desculpas esfarrapadas, me fazendo ver que nenhuma tinha cabimento e se ofereceram para me ajudar no que fosse preciso, inclusive para arrumar a minha mala, e para ir às minhas aulas tomar notas. Quase me colocaram dentro do avião. São uns amores! A Cigdem, especialmente, foi* muito importante para mim nessa vida nova. Sempre sincera e assertiva, ela foi responsável por me dar umas sacudidas e me trazer de volta para a realidade muitas das vezes que eu estava zumbizando lá por Lund.

Mas, voltando... Outro dia eu estava falando desse medo todo para um amigo e ele me perguntou por que eu estava com medo de ir. Eu não soube responder. Ele, no dia, me perguntou se eu estava com medo de não querer voltar. Eu disse que não. E não estava mesmo, porque eu negava e nem queria perceber o tamanho da minha saudade do Brasil.

Mas a pergunta dele não quis calar e ficou como um sininho tocando na minha cabeça. Só parou dias depois, quando eu estava voltando de um shopping em Bangcoc. Eu estava no táxi e, por causa do engarrafamento, devo ter demorado quase duas horas pra chegar no hotel, então aproveitei esse tempo pra refletir. Não me lembro a seqüência de reflexões que me trouxeram a essa conclusão, mas finalmente eu entendi o medo e o sino se apagou. O meu maior medo era de que as pessoas tivessem se esquecido de mim. Ou de eu estar tão diferente que as pessoas não mais me reconheceriam. Ou pior, eu estava apavorada pelo medo de que mesmo após superado o rápido e normal estranhamento (re)inicial, não gostassem mais de mim, seja lá o que for que eu havia me tornado.

Tinha medo de não pertencer mais... de não sentir mais que eu faço parte.

Tinha medo de ter de novo a desconfortável e apavorante sensação de não ter onde caber, que tive quando me mudei de Uberlândia e antes que Brasília se tornasse parte homogênea de mim. Sentimento seco e acidentado de não pertencer mais a canto nenhum do mundo.

Mas... eu encontrei essas pessoas de quem eu estava com tanto medo. E, quando as encontrei, eu vi os seus olhos. E nos olhos que vi não enxerguei estranhamento de nenhuma fração de tempo perceptível à minha humanidade. Enxerguei sim, em cada par de olhos , o reflexo dos meus próprios. E à medida que ia encontrando cada olhar, eu , que estava perdida e fragmentada, encontrava meus pedaços escondidos. E, depois disso, tudo fez sentido, assim mais ou menos:

“(…)

You've got this look I can’t describe,

You make me feel I’m alive

When everything else is all fade

Without a doubt you’re on my side

Heaven has been way too long

Can’t find the words to write this song

(…)” Like a Star, Corinne Bailey Rae

Quando retornei à Suécia, também encontrei olhos: diferentes, coloridos e rasgados. E eles continham os pedacinhos que faltavam. Pedaços bem menores, sem dúvida, mas bastante complexos e essenciais na minha composição.

E foi a junção de todos esses olhares que me fizeram inteira de novo. Até o meu sono eles devolveram. Foi como se, ao ver seus olhos abertos, eu pudesse descansar os meus.

E eu concordei com Murilo Rosa e Chico Pinheiro: "A minha casa está onde está o meu coração". E, ao invés de me sentir sem lugar porque no meu coração estão coisas, lugares e pessoas tão diferentes, dessa vez eu senti o contrário. Senti que meu lugar não é só um, meu lugar são vários e isso... É BOM DEMAIS!

Então, meus amigos (muito, muito, muito) queridos... Muito (muito, muito, muito) obrigada por vocês existirem e por me enxergarem quando me olham. Amo (muito, muito, muito) vocês.

*Digo foi porque ela terminou o curso agora e se mudou da Suécia. Vou sentir saudades muito doídas dela.

P.S.: Percebi agora que esse é um blog principalmente dedicado às pessoas e à sua importância na minha vida.


Entre Bangcoc e Phuket, 27 de julho de 2009.